Era 1o. de janeiro de 2010, Mirela com 29 dias de vida e eu escrevendo sobre “baby blues” (http://www.tatianabachur.com.br/?p=897). De lá pra cá, não comentei mais nada no blog sobre isso, mas a verdade é que muita água rolou nesses pouco mais de 2 anos, e eu rolei ribanceira abaixo, junto com as águas, quase me afogando e tendo que procurar um tronco em que eu pudesse me segurar e não deixar de respirar.
Metáforas a parte, o que aconteceu comigo após o parto deixou de ser “baby”, ganhou força, cresceu e se instalou dentro de mim de uma forma tal que até hoje estou tentando me desvencilhar (as águas ainda estão rolando…).
Como comentei no referido post, meu primeiro diagnóstico foi dado por meu marido, seguido da pediatra da Mirela e depois da minha G.O., isso tudo, durante o primeiro mês de vida da Mirela. Todos falavam a mesma coisa: você precisa de ajuda de um médico. Porém, imaginando que com o passar do tempo as coisas (inclusive os hormônios) voltariam para o lugar, fui deixando os dias rolarem…
Quando minha licença maternidade acabou e eu tive que retomar as atividades do doutorado, tudo começou a se complicar. Eu ia para a faculdade e não conseguia produzir nada, chorava a maior parte do tempo, não me sentia capaz de realizar o que precisava. E nada tinha a ver com o bem estar de Mirela, muito bem amparada em casa pela minha mãe, uma babá e uma secretária. Eu apenas não sabia o que estava fazendo ali…
Foram 3 meses ainda levando o doutorado desse jeito, até que em julho, Mirela já com 7 meses e concluída a amamentação, recebi outro diagnóstico de uma colega da faculdade: você está com depressão e precisa de ajuda médica. Neste dia, corremos atrás de pessoas que pudessem nos indicar um médico de confiança e que pudesse me atender “pra ontem” e assim, fui na minha primeira consulta com um psiquiatra.
Nunca, absolutamente nunca tive preconceito em falar sobre isso. Até hoje, se preciso falar nesse assunto, solto abertamente: “minha psiquiatra falou…” (sim, “minha” porque mudei de médico depois de 10 meses de tratamento). O que me segurou durante tanto tempo até procurar tratamento especializado foi a esperança de que tudo voltasse ao normal dentro de pouco tempo, como acontece com a maioria das puérperas. Mas 7 meses foram demais e a depressão quase me derrubou, literalmente.
E o que eu sentia para ter como diagnóstico a depressão (já nem foi mais considerada pós parto)? Fora a profunda tristeza (apesar de ter em meus braços o sol da minha vida), vários outros sentimentos ruins como angústia inexplicada, negativismo, pessimismo, pensamentos autodestrutivos (“bem que eu poderia ter uma apendicite, fazer uma cirurgia e ficar internada por uns dias!”, “bem que aquele carro podia vir na minha direção e me mandar para o hospital”, coisas do gênero…), baixa autoestima (ao ponto de não lembrar de tomar banho, lavar os cabelos 1x por semana, deixar de ter cuidados básicos de higiene, não dar a mínima para roupas, sapatos, acessórios nem pensar, maquiagem muito menos), total atitude antissocial (nada de telefone, sair com amigos; sair com o marido e Mirela era um tormento, porque eu não queria sequer me vestir; ausência da internet por pelo menos 6 meses), uma absurda falta de memória, incapacidade para ler, compreender, escrever, e até mesmo dificuldade em falar (faltavam as palavras; eu era incapaz de resolver uma página de palavras cruzadas, ou de ler um livro), falta de concentração, falta de perspectivas, sentimento de inferioridade, questionamentos profundos sobre a existência, tremores nas mãos (a coordenação motora fina fica afetada) e talvez mais algumas coisas que não vou me lembrar agora…Tudo isso somado à imensa responsabilidade de criar a primeira filha e manter o casamento.
Doenças apareceram: desenvolvi alergias dermatológicas, respiratórias, tive pneumonia, pleurite, tomei mais de 20 medicamentos diferentes em 1 mês… Corpo e mente estão realmente interligados – a mente adoece, o corpo adoece.
Os primeiros 10 meses de tratamento com o primeiro médico foram uma mera tentativa de acertar a medicação, que não funcionou. A terapia também já não funcionava, porque passei a desacreditar na possibilidade de cura. Foi em maio de 2011 que Deus colocou no meu caminho a minha atual médica, com quem estou já há outros 10 meses e que tem me ajudado a voltar aos eixos, não só com medicação, mas com muita conversa e muito incentivo. Devo também parte da minha escalada rumo à cura à minha psicóloga, com quem também estou há 10 meses. E o que posso dizer do momento atual é que, AOS POUCOS, vou voltando a ser gente.
Talvez agora fique mais claro o motivo do meu sumiço da rede, quando deletei meus perfis das redes sociais e abandonei o blog. Por 6 meses eu sequer ligava o computador, muito menos usava o smartphone (dado de presente pelo meu marido na tentativa de me reconectar com o mundo), salvo para colocar algum vídeo preferido de Mirela no You Tube…
Durante todo este tempo de tratamento, tentei segurar a onda do doutorado. Cada dia eu achava que poderia dar certo e que eu amanheceria melhor e com disposição para voltar às atividades. Porém, depois de 2 tentativas de ir para a faculdade e voltando para casa no meio do caminho, percebi que algo muito forte me impedia de continuar e, hoje, sei que realmente criei um bloqueio contra o ambiente que eu precisaria frequentar (muitos motivos nas entrelinhas) e minha libertação só começou agora em janeiro de 2012, quando fui obrigada a tomar uma decisão: parar ou continuar e terminar; optei pela primeira, pois o assunto “doutorado” ainda me tira do sério. Quem sabe um dia, com a cabeça no lugar, com as feridas cicatrizadas, eu retome este meu antigo sonho…Mas agora não, não estou em condições de viver o a loucura que é escrever e defender uma tese (fora a qualificação, o exame de proficiência, os dois artigos para escrever…).
Coloquei em primeiro lugar a minha saúde; em segundo, mas não menos importante, a minha família (preciso estar com saúde para viver e aproveitar minha família). Tudo depois disso passou a ser secundário: a carreira, títulos, os sonhos mais ousados. Passei a respirar melhor, fisiologica e mataforicamente falando e agora só faço o que me faz bem, pelo menos até me sentir capaz novamente de encarar os desafios cabeludos que outrora eu enfrentava e que um dia me disseram que, por ser mãe, eu não iria mais conseguir… Isso eu ainda tenho que vencer: quebrar este martelo que cutuca minha cabeça fazendo com que me sinta incapaz.
Começo a dar sinais de que a libertação se aproxima, mas falta ainda resgatar a autoestima, a vaidade, a vida social, mas sei que estou no caminho. Dando um passo de cada vez, sei que em breve tudo isso não passará de uma experiência do passado. Tudo bem, já são 2 anos e 3 meses lutando contra isso, mas se eu não tiver essa esperança, melhor desistir por aqui mesmo…
Sei que este post é pesado. Sei que é muito particular. Mas eu estaria indo contra a minha natureza (sinceridade sempre!) e contra o objetivo principal deste blog (alertar, ajudar) se não o escrevesse. Acho até que demorei demais, mas agora me sinto mais aliviada… Tenho um bom tema para a terapia amanhã…
Gostei do post! Te amo!!!
Que difícil hein Tati! Desconfiava que alguma coisa estava errada com você, mas temos que respeitar o momento da pessoa…Também por aqui é tanto correria quanto a sua e pensei q pudesse até ser alguma coisa nesse sentido. Não nos conhecemos pessoalmente, mas alguma coisa tão importante nos liga né! Ser Mãe! Tantos medos, inseguranças…Quando Mariana nasceu daquela maneira, foi muito difícil, afinal foram 54 dias de UTI, duas infecções, ver minha filha em meus braços um dia, quase sem responder…achei q ia perdê-la, naquela semana precisei até de auxílio da psicóloga do hospital. Quando veio pra casa então quase pirei, muito pequena, minha mãe morando longe, marido que não podia escutar a filha chorando que surtava, quando ela não faza coccô então aff era uma tortura, pensei q ia enlouquecer. Mas enfim tudo passa não é mesmo! São coisas que só o tempo pra curar…Enfim vamos aprendendo dia após dia, caindo e levantando, posso dizer que agora estou mais tranquila com tudo, ando muitissimo cansado, não é mole dar conta de tudo, mas estou tentando me equilibrar. Que bom q vc está vencendo, só de poder partilhar tudo isso já é uma grande vitória. Que Deus te abençõe, nos abençoe nesta caminhada, afinal o que seria hoje de nós sem nossas pequenas? Já não imagino mais minha vida sem Mariana. Beijão no seu coração e muiiita força!!!
Tati nem imaginava que o tal baby blus que escreveu naquele post poderia ter se tornado algo tao grave em sua vida.Imaginei que realmente havia acontecido algo muito serio pra vc desistir do blog de uma hora pra outra,afinal vc amava escrever,eu sentia nas suas palavras isso.
Mas que bom que agora esta se desvencilhando de todo esse mal.
voce é uma mulher de muita sorte,por ter tido apoio do seu marido e amigos.Minha mae infelizmente nao teve essa sorte,ninguem acreditava que a depressao era um problema de saude,todos achavam que era frescura,e as coisas acabaram mal,quando li seu post me lembrei logo dela,e fiquei pensando como foi dificil.
Mas fico muito feliz por vc estar se recuperando,e que esse blog seja de novo a porta pra vc se sentir bem..
Sei q to muito longe,mas se quizer precisar é chamar ta..
beijos
Minha querida amiga (posso te chamar assim, pois as pessoas que me ajudam, mesmo que por email como foi o nosso caso, são sim para mim minhas amigas);
Fico muito feliz em ver sua vontade e gana de vencer e passar por esse vale!
É só um momento, pense nisso.
A Tati de sempre está aí, não menor do que a Tati tristinha, somente tentando retomar o seu lugar primordial na vida própria e social.
O fato de reconhecer, se tratar e estar aqui novamente compartilhando seus momentos e os de Mirela conosco já mostra o quanto é guerreira e não desistiu de vencer.
Estamos aqui, para ler sobre os risos e lágrimas dessa sua vida tào preciosa e amada!
Um beijo com carinho!
Mudei de email, caso queira aparecer mais, estarei por lá, ok?!
Com carinho e saudade,
Kamilla
Tati, admiro sua coragem em compartilhar problemas tão íntimos e principalmente em tomar a decisão de trancar o doutorado! Realmente, vc tem de estar bem pra cuidar da sua pequena que tanto precisa de vc! Força Tati, vc vai sair dessa!! Estamos torcendo pela sua vitória. Deus abençoe vc e sua família! Beijo em Mirela!
Ô Tati, que surpresa esse seu post.. E que surpresa também ver a maneira como você expôs isso, uma coisa tão íntima como você mesma falou.
Espero, do fundo do coração, que ter nos contado isso possa estar lhe ajudado!!
Beijinhos e muito boa recuperação!
Nossa… Estou aqui chocada. Feliz por saber que todas as suas escolhas foram direcionadas ao reencontro do seu equilíbrio. Chocada por ver exatamente os mesmos sintomas. Chocada. pois sinto tudo, tudinho igual. 2 meses antes de engravidar, minha mãe havia falecido. Isso me afetou diretamente quando minha filha nasceu, o fato de não ter minha mãe do lado infelizmente fez com que eu não aproveitasse muito bem, eu chorava rios e rios… Quando minha filha completou 6 meses passei num concurso público em outro estado, e fui, de /mala e cuia. Simplesmente por que eu nãovia mais sentido em NADA do que estava fazendo, eu precisava de algo pra me agarrar… Mas a cada dia vejo o quanto essa aprovação dificultou as coisas. Ainda estou nesse outro estado, afastada dos amigos e até do marido (que ainda não conseguiu a transferência) e com as rebentas nos braços. Pressão em dobro, tristeza em dobro também. Mas eu sempre faço de conta que está tudo bem, e vejo que na verdade preciso mesmo de ajuda… Foi bom ler isso, para que eu percebesse que não estou num estado normal. Abraços
Glória a DEUS por sua melhora, esses novos passos que vc está dando já SINALIZAM que tudo vai terminar BEM! )
E tem que ser assim mesmo, um dia de cada vez!!!!
Bjs irmã, te amo!!!!!
com vc sempre!!!! vc vai ajudar muita gente ainda irmã!!
Obrigada por ter colocado esse Post tão pessoal….me ajudou bastante, pois também sinto muitas coisas que você citou…e agora pude perceber que não é coisa somente da minha cabeça… e nem sequer imaginava que isso poderia ser depressão…
Estou aqui em fortaleza..longe da minha família e isso tem dificultado bastante as coisas para mim… Me pego a maioria das vezes pensando milhares de bobagens…Só peço a DEUS força para superar tudo…
Gosto muito do seu Blog…seus comentários sempre me ajudaram bastante….tanto nos cuidados com minha pequena..quanto para mim como MÃE.
Minha amiga querida, eu chorei muito lendo seu relato. Chorei pq me dói muito saber como essa cruel doença a fez sofrer, e tb chorei emocionada por reconhecer a mudança , por perceber que finalmente vc está no caminho certo. Escreveria muito aqui nesse teclado minusculo, mas acho que precisamos nos encontrar. Conversar. nos divertir e divertir nossas pequenas. Te amo! E sinto sua falta. adorei o post do lazer. bjoo
E depois de um tempo do meu desabafão é que vim ler o o seu. E
Sem querer enviei o comentário sem terminar. rsrsrsrsr
E depois de um tempo do meu desabafão é que vim ler o o seu.
Fui dá uma olhada na data do meu desabafão, dia 07/07/12, e eu começo assim: “Há duas semanas, não estou muito bem. Com oscilação de humor, irritada, mau- humorada, desmotivada, desanimada. Só que tudo oscila rapidamente. E para fazer algumas coisas que sei que preciso fazer para o meu próprio bem, é necessário um esforço maior, como fazer atividade física por exemplo, uma batalha comigo mesma.”
Ou seja, mais ou menos, nessa época agora que estamos, época das minhas TPM´s.
É tão chato essa fase, pois dura cerca de 15 dias e me perturba demaaaaais, todo mês. Enfim… Depois a gente conversa melhor. Beijos e Obrigada pela força!
Tou tão peturbada que errei até a data é 07/03/12!
Admiro sua coragem. Enfim em um mês vai ser minha qualificação. Muitas pessoas me falam sobre minha coragem, luta, dizem que me admiram. Mal elas sabem que eu consegui terminar meu doutorado não por coragem, mas por covardia. Na verdade não tive a coragem de dizer não. De dizer chega. Por covardia me deixei consumir pela angústia e cheguei até aqui, rastejando como um verme, pronto para ser esmagado. Abri mão de tantos momentos com minha família, com meu filho. Acho que o tempo é o senhor da sabedoria. Só ele vai poder me reconfortar ou me aterrorizar pelas escolhas que fiz.
Admiro pessoas como vc Tati, que sabem a hora certa de dizer AGORA CHEGA!
querida aline, nem sei se vc vai lembrar do comentario que fez em meu blog ha mais de 2 anos atras e que, so agora, estou lendo. o blog esteve fora do ar por um longo tempo e agora estou retomando o projeto, procurando falar da minha vida profissional e a aventura de SER mãe, QUE É ETERNA! espero que vc tenha encontrado o seu caminho e que esteja bem e fortalecida. espero poder nos encontrar mais por aqui pelo blog! um grande beijo e que deus te abencoe! Tatiana Bachur – MMM – http://www.tatianabachur.com.br